A transformação digital não é um destino, é sim um processo continuo que mistura pessoas, tecnologias digitais e processos, para proporcionar valor acrescido às partes interessadas, sejam estes os clientes, os colaboradores ou os acionistas. O primeiro passo para o arranque de um processo de transformação digital é procurar identificar o nível de maturidade digital da empresa, de modo a poder fundamentar projetos e iniciativas a empreender. Esta avaliação é fundamentalmente um exercício de reflexão do nível de topo da gestão sobre a empresa, o seu mercado, a forma como interage com este, a gestão de recursos humanos e o papel que as tecnologias digitais têm no momento.
Existem, portanto, um conjunto de tecnologias e sistemas que formam os 9 pilares da Indústria 4.0:
1. Internet das coisas (IoT) – IoT significa em grande medida a extração de dados em tempo-real de recursos e ativos como: equipamento industrial, pessoas, veículos e produtos. Na indústria têxtil, os smart products estão associados aos têxteis técnicos, com a inclusão de sensores e atuadores em produtos de natureza têxtil, e com a capacidade de processamento e comunicação de dados. Desta forma, é possível reagir atempadamente a problemas nos equipamentos, a gerir consumos, potenciar a manutenção preditiva, ou a alimentar processos como a gestão comercial, gestão de produção ou gestão de qualidade.
O recurso a plataformas de IoT é fortemente encorajado como forma de criar uma camada de abstração entre o universo de sensores/equipamentos e a camada de aplicações.
2. Ciência dos dados – procura extrair conhecimento a partir de dados utilizando processos, algoritmos e sistemas baseados no método científico. É um conjunto de técnicas e abordagens de estatísticas, machine learning e análise de dados, utilizando cada um dos seus pontos fortes para compreender e conceptualizar fenómenos do mundo real.
3. Simulação – a simulação de processos e produtos tem uma clara aplicação no setor têxtil. A fase de produção de amostras é uma fase fundamental do setor têxtil e bem conhecido dos profissionais. Esta fase destina-se a validar o produto antes de este ser produzido, garantindo que a peça é exequível e existe capacidade para se reproduzida em quantidade, ao mesmo tempo que valida o fornecedor junto do cliente, exibindo o conhecimento e a capacidade técnica do fornecedor para atender às expectativas do cliente.
Para isto é então possível desenvolver um modelo de uma peça de vestuário inteiramente em formato digital e obter uma simulação dinâmica dessa peça, como se um modelo humano a vestisse de fato. Ao recorrer a plataformas de design 3D é possível suportar de forma digital as primeiras iterações do processo de desenvolvimento de uma peça, diminuindo o custo e o tempo desta importante fase.
4. Cibersegurança – Quanto maior é a exposição das infraestruturas tecnológicas ao exterior, maior é o risco de se ser alvo de um ataque informático. Por isso a cibersegurança é tão importante, cada vez mais PME são alvo de ataques de diferentes tipos que podem paralisar uma empresa de um dia para o outro. A formação assume aqui uma importância vital. Devem ser implementados os procedimentos e as tecnologias adequadas para garantir que a empresa está protegida contra ameaças externas e tem a capacidade de resistir e manter a sua operação quando um ataque se concretiza.
5. Integração Horizontal e Vertical – a iniciativa Ebiz4.0, tem vindo a trabalhar na definição de um standard de troca de mensagens especificamente para setores da moda e do calçado, contundo ainda se encontra em fase de demonstração. Este desafio da integração da supply-chain é algo que nenhuma empresa de forma isolada conseguirá resolver. Os atuais fornecedores de soluções de software de gestão e ERP estão focados em soluções orientadas aos processos internos, o que deixa um vazio no que toca à integração entre empresas. Será necessário que o setor se mobilize para que os fornecedores de soluções digitais se movam na procura de uma solução ou abordagem transversal.
6. Robôs Autónomos – a automação apresentou ganhos importantes de produtividade. Ao libertar várias operações de manipulação de materiais das mãos dos operadores humanos, substituindo-os por máquinas com alta precisão e velocidade. Na indústria 4.0, os robôs assumem outra dimensão, atuam autonomamente, conseguem ver e sentir, podem trabalhar lado a lado, e de forma colaborativa, com um humano.
Apesar de todos os desafios, o setor deve investir na inovação, de modo a procurar soluções fiáveis e acessíveis num futuro próximo.
7. Cloud Computing – é a possibilidade de aceder a espaço de armazenamento on-demand, sem ter que investir em infraestrutura interna de servidores e unidades de storage. É uma abordagem que permite às empresas crescer na sua capacidade de processamento e de armazenamento de dados, usufruir de soluções de segurança e de recuperação mais sofisticadas, obter uma maior acessibilidade aos dados e a ter uma equipa de IT interna mais reduzida, pois a gestão da infraestrutura fica do lado da empresa de serviços de cloud. Estes serviços cloud entram em ação quando as empresas começam a gerar um elevado número de dados nas suas operações, com projetos de IoT ou de engenharia digital de produto.
8. Realidade Aumentada e Realidade Virtual – são usualmente colocadas lado a lado, contudo não são a mesma coisa. Nos sistemas de realidade aumentada, o que é percecionado pelo utilizador são imagens reais sobre as quais são adicionados elementos digitais. Nos sistemas de realidade virtual, toda a imagem é gerada computacionalmente, proporcionando um maior grau de imersividade. A realidade virtual tem tido também desenvolvimentos experimentais ou soluções amplamente adotadas. Em termos industriais há um espaço claro para a utilização de realidade virtual na fase de desenvolvimento de produto onde será possível visualizar um protótipo digital com o detalhe necessário para poder avaliar a qualidade do protótipo.
9. Manufatura Aditiva – consiste no fabrico de um produto final através da deposição sucessiva de material. As impressoras 3D são quase um sinónimo deste tipo de manufatura e a evolução que estes equipamentos têm tido popularizaram de forma clara a tecnologia. A produção de uma peça de vestuário de malha sem costura é manufatura aditiva.
Esta transformação faz-se então com a união de pessoas, processos e tecnologias digitais.
O desafio que as empresas enfrentam é de como adotar, de forma correta e apropriada, as tecnologias e sistemas da Indústria 4.0, de modo a que possam prosperar. Por isso é importante fazer uma análise sobre a missão e valores da empresa, as suas estruturas e cadeia de valor para saber que sistemas adotar para obter o sucesso pretendido neste processo de transição digital. O potencial destas tecnologias e aplicações existe tanto para a pequenas e médias empresas, como para as grandes empresas.